Esta semana foi tão corrida e agitada que devido a um belo resfriado e a fortes emoções vividas hoje não tive como atulizar o blog como queria! Mas em uma data tão especial como esta, não poderia deixar de registrar alguma informação sobre o Evangelista São Marcos, não é verdade?! Então aqui está!...
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Sobre a origem e identidade de
São Marcos Evangelista houve muita discussão. Seria ele o mesmo personagem
importante, na Igreja apostólica, que umas vezes é chamado João (At. 13, 5-13),
outras João Marcos (At. 12, 12; 15, 37), e outras somente Marcos (At. 15, 39)? Alguns
dizem que se trata de duas pessoas diferentes.(1) Entretanto, parece prevalecer
entre os exegetas a opinião de que os vários nomes referem-se sempre à mesma
pessoa –– São Marcos, Evangelista, discípulo de São Pedro, citado por São Paulo
várias vezes, e por São Pedro na sua primeira epístola, onde o chama “meu filho
dileto”.
Essa divergência se explica
porque, segundo costume então em voga na Palestina, uma pessoa podia ter, além
do nome judaico, um nome greco-romano, máxime se procedia de províncias do
Império Romano. Tanto no caso de São Marcos como no de São Paulo, o nome romano
terminou por impor-se sobre o hebreu.
São Marcos era, como afirma
São Paulo, primo de São Barnabé e filho de uma Maria, provavelmente viúva,
cristã de alta posição, em cuja casa se reuniam membros da Igreja nascente de
Jerusalém (At. 12, 12 ss). Foi para essa residência que o Príncipe dos
Apóstolos dirigiu-se quando saiu da prisão de Herodes. Marcos devia estar
presente nesse momento. Por isso, não é de estranhar que ele se torne mais
tarde secretário e intérprete de São Pedro. Segundo antiga tradição, essa casa
da viúva Maria era a mesma onde foi celebrada a Última Ceia, ou seja, o
Cenáculo. O Getsemani, ou Jardim das Oliveiras, também lhe pertenceria, sendo o
próprio Marcos o rapaz que ele descreve em seu Evangelho, fugindo por ocasião
da prisão de Jesus, com tanta pressa, que deixou a roupa nas mãos dos soldados
(Mc 14, 51-52).
Primo de São Barnabé, que era
da Ilha de Chipre e levita, São Marcos deveria pertencer à colônia cipriota de
Jerusalém. E seria, como seu primo, sacerdote da raça de Aaron, como afirmam
São Beda, o Venerável, e São Jerônimo. Como escritores antigos afirmam que, em
Alexandria, Marcos era chamado de “Galileu”, é provável que fosse da Galiléia,
terra de São Pedro e dos outros Apóstolos.
Afirma-se também que São
Marcos foi do número dos setenta e dois Discípulos de Nosso Senhor que se
escandalizaram quando Ele lhes disse: “Se não comerdes a carne do Filho do
homem, e se não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós”. Nessa ocasião,
ele ter-se-ia afastado com os outros discípulos. São Pedro o teria
re-convertido e levado de volta a Jesus, após a ressurreição.
Divergência entre São Paulo e São Barnabé
Seja como for, o certo é que
São Marcos participou da primeira viagem apostólica de São Paulo e São Barnabé.
Este último era de caráter bondoso, condescendente e muito espiritual; exerceu
grande influência na Igreja primitiva, por seus conselhos e exemplos, razão
pela qual é, embora não do número dos doze, também chamado de Apóstolo. Ele se
tornou como que padrinho de São Paulo recém-convertido, quando todos em
Jerusalém duvidavam dele. E o apresentou aos Apóstolos, provavelmente na casa
de Maria, mãe de João Marcos.
Quando, por ocasião da fome em
Jerusalém nos anos 45-46, São Paulo e São Barnabé retornaram da Cidade Santa
para Antioquia, levaram consigo São Marcos. Vemo-lo com eles no início da
primeira viagem apostólica, servindo-lhes de coadjutor na evangelização. Não
escolhido pelo Espírito Santo para essa missão, como o tinham sido São Paulo e
São Barnabé (At. 13, 2), nem tendo sido delegado pela Igreja de Antioquia como
eles, São Marcos foi levado provavelmente como auxiliar para serviços gerais.
Entretanto, quando os dois
missionários passaram à Ásia Menor, desembarcando em Perga da Panfília, Marcos
deles se separou sem dar explicações, voltando para Jerusalém. Isto, que
parecia uma inconstância e uma fraqueza, não agradou a São Paulo. E quando,
mais tarde, os dois missionários iam empreender a segunda viagem apostólica,
São Barnabé quis levar de novo São Marcos, mas o Apóstolo dos Gentios não
concordou. Houve divergência entre eles, e se separaram: São Barnabé foi com
São Marcos para a ilha de Chipre; e São Paulo, com Silas, rumou para a Síria e
a Cilícia, e depois para a Grécia. Por permissão divina, essa divergência
redundou em proveito do Evangelho, pois multiplicou as missões; e não impediu
que, mais tarde, São Paulo e São Marcos voltassem a se reunir. Com efeito, o
Apóstolo fala de Marcos como colaborador, manifestando o gosto em o ter por
auxiliar. Mais tarde, estando em Roma, escreve a Timóteo pedindo-lhe que venha
encontrá-lo na capital imperial, e que traga consigo Marcos, “pois me é útil
para o ministério” (II Tim 4, 11).
Discípulo dileto do Apóstolo São Pedro
Mas foi São Pedro o verdadeiro
pai e mestre de São Marcos. Ele o trata afetuosamente como filho, o que leva
muitos a pensar que foi ele quem o batizou. Por volta do ano 60, vemos
novamente São Marcos em sua companhia, em Roma. O apostolado do primeiro Papa
fora tão abundante na cidade dos Césares, que ele não era suficiente para
atender ao número crescente de prosélitos. Marcos o secundava nisso. E foi por
causa deles –– que lhe pediam com instância para lhes expor a doutrina de seu
mestre, se possível por escrito –– que ele escreveu o segundo Evangelho.
O Evangelho de São Marcos é o
mais breve dos quatro, um resumo do Evangelho de São Mateus, embora omita
algumas partes deste e o complete noutras. São Mateus apresentava para os
judeus Nosso Senhor Jesus Cristo como o Messias por eles esperado. São Lucas o
propunha aos greco-romanos como o Salvador de que falavam seus oráculos. São
Marcos o apresenta aos romanos, antes de tudo, como Filho de Deus. Ele se
propõe, assim, a demonstrar que Jesus é verdadeiro Filho de Deus, e o faz
especialmente com a narração de muitos milagres que Ele operou. Por isso alguns
o chamam “o Evangelista dos Milagres”. Entretanto, não relata os discursos mais
longos de Jesus, como o Sermão da Montanha, nem suas discussões com os
fariseus, pois isso não teria impressionado seus leitores pagãos. Escrevendo em
grego, no qual tinha mais facilidade que no latim, explica freqüentemente
certos usos e costumes e certas expressões próprias dos judeus. Por isso,
também aparecem em seus escritos freqüentes grecismos e algumas expressões
aramaicas. Embora seu vocabulário seja pobre e restrito, escreve com muita
vivacidade; sua narração é colorida e pitoresca, procurando transmitir ao
leitor o que ouvira freqüentemente dos lábios de Pedro. Por essa razão, São
Justino, que viveu no século II, chama o Evangelho de São Marcos “Memórias de
Pedro”. E Santo Irineu afirma pouco mais tarde: “Depois da morte de Pedro e
Paulo, Marcos, discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu por escrito o
que aquele havia pregado”.(2)
Sendo o intérprete de São
Pedro, compreende-se por que deixou de descrever cenas que seriam honrosas para
o Príncipe dos Apóstolos. E também porque, ao contrário dos outros
Evangelistas, descreve com detalhes a cena da negação de Pedro e o canto do
galo. Nesses pormenores se manifesta a exemplar humildade de São Pedro, que
inspirava a pena de São Marcos. “Esse narrador simples, que carece da invenção
e do gênio de um artista, só pretende fixar a lembrança clara da realidade
vivida”. Em seu papel de sombra de São Pedro, Marcos “pertencia a essas almas
admiráveis que brilham na segunda fila, ou que sabem retirar-se para a penumbra
para consagrar-se à glória de um mestre, merecendo assim o prêmio da modéstia e
fazendo sua ação mais fecunda, se bem que menos pessoal”.(3)
Apostolado de São Marcos, patrono de Veneza
São Jerônimo e Eusébio afirmam
que São Pedro conheceu, por divina revelação, que São Marcos havia escrito seu
Evangelho, e alegrou-se muito vendo o zelo que os novos cristãos testemunhavam
pela palavra de Deus. Aprovou essa obra e estabeleceu, por sua autoridade, seu
uso na Igreja.(4)
São Pedro enviou São Marcos
para evangelizar Aquiléia, cidade então célebre e de considerável tamanho. Ele
aí formou uma cristandade notável pela ciência religiosa e firmeza da fé.
Altamente satisfeito com o resultado, o Príncipe dos Apóstolos enviou seu
discípulo depois para evangelizar o Egito. São Marcos desembarcou em Cirene, na
Pentápolis, percorreu a Líbia e a Tebaida, sempre com abundantes conversões, e
finalmente fixou residência em Alexandria, no Egito, onde fundou uma igreja
dedicada a São Pedro, que ainda vivia. São Jerônimo e Eusébio confirmam essa
tradição. Por isso, como afirma o Papa São Gelásio, a igreja de Alexandria é
patriarcal e a primeira em dignidade depois da de Roma.(5) Aí, segundo a
tradição, São Marcos recebeu o martírio.
“No século IX a igreja do Ocidente foi enriquecida com os despojos mortais de São Marcos. Seus sagrados restos, venerados até então em Alexandria, foram trasladados a Veneza, e sob seus auspícios começaram os gloriosos destinos desta cidade, que haviam de durar mil anos”.(6)
“No século IX a igreja do Ocidente foi enriquecida com os despojos mortais de São Marcos. Seus sagrados restos, venerados até então em Alexandria, foram trasladados a Veneza, e sob seus auspícios começaram os gloriosos destinos desta cidade, que haviam de durar mil anos”.(6)
E-mail do autor:
pmsolimeo@catolicismo.com.br
Notas:
1. Por exemplo, o Pe. Pedro de Ribadaneira (Flos Sanctorum, in Dr. Eduardo M. Vilarrasa, La Leyenda de Oro,
D. González Y Compañia, Editores, Barcelona, 1896, tomo II, p. 118) que
cita a seu favor Salmerón, São Roberto Belarmino e Maldonado.
2. Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo II, p. 566.
3. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, pp. 198-200.
4. Cfr. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo V, p. 17.
5. Cfr. Pe. Pedro de Ribadeneira, op.cit., p. 118.
6. D. Próspero Guéranger, El Año Litúrgico, Ediciones Aldecoa, Burgos, 1956, tomo III, p.
Fonte: Texto escrito por Plinio Maria Solimeo, para o site Catolicismo.
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