Somos seguidores de Jesus. Mulheres e homens que
renasceram em Cristo. Dele, recebemos a boa notícia de que somos filhos e
filhas de Deus. Somos todos irmãos (Mt 23,8). Nascer, renascer em Cristo,
maturar nele; chegar à plenitude como Ele! Somos seus discípulos, aprendizes.
Uma vida inteira com os olhos fixos em Jesus (Hb 12,2). Voltados para Ele,
vivendo dele, partilhamos “a sua própria santidade” (Hb 12,12). Por Ele
atraídos, somos enviados como anunciadores de sua presença inaudita.
Missionários como Ele, o Missionário do Pai. Discípulos e discípulas da vida
plena, missionários e missionárias do Reino da verdade e da graça, da justiça,
do amor e da paz. Um Reino de irmãos!
A Quaresma nos provoca e convoca à conversão, mudança de
vida: cultivar o caminho do seguimento de Jesus Cristo. Os exercícios
quaresmais que a Igreja propõe aos católicos são: jejum, esmola e oração. Três
tentativas para nos abrirmos à graça da filiação divina. Jejum: esvaziamento,
expropriação, libertação. Tudo para que sejamos um só em Cristo (G1 3,28) e
Cristo seja formado em nós (G1 4,19). O jejum abre nossa pessoa para a
receptividade, para a liberdade da vida em Cristo. Esmola: vida, fé partilhada.
A esmola nasce da alegria de ter encontrado o tesouro escondido, a pérola
preciosa (Mt 13,44-46). O amor, a misericórdia busca o outro. Tem necessidade
de partilha e nos aproxima da irmandade. Oração: tocados pelo dom do anúncio,
apercebidos da valiosa experiência do cuidado amoroso e misericordioso de Deus
em Jesus Cristo, necessitamos de palavras e silêncio para agradecer e suplicar.
Uma espécie de exposição ao dom recebido na tentativa ser atingidos com maior
intensidade pelo amor e pela misericórdia.
Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão
quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação
paterna de Deus. “Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha
para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois
todos irmãos” (Mt 23,8). A Campanha tem como objetivo geral: “Construir a
fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz
da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”. Sofremos e estamos
quase estarrecidos com a violência. Não apenas com as mortes que aumentam, mas
também por ela perpassar quase todos os âmbitos da nossa sociedade. A ética que
norteava as relações sociais está esquecida. Hoje, temos corrupção, morte e
agressividade nos gestos e nas palavras. Assim, quase aumenta a crença em nossa
incapacidade de vivermos como irmãos.
“Por ‘Violência cultural’ entendem-se as condições em
razão das quais uma determinada sociedade reconhece como violência atos ou
situações em que determinadas pessoas são agredidas. Criam-se processos que
fazem aparecer como legítimas certas ações violentas. Elaboram-se discursos para
apresentar razões e justificativas como se uma ação violenta fosse devida, uma
consequência de determinadas condutas da própria pessoa que sofreu a violência.
Portanto, a violência cultural não é, necessariamente, uma causa da violência
direta, mas cria as condições em meio às quais chega a tornar-se difícil, para
a sociedade, reconhecer um sistema como violento”.
Se partirmos do texto sagrado que indica o caminho das
origens de todo o universo, ficamos admirados com a harmonia das relações: “E
Deus viu que tudo era bom” (Gn 1,25). A origem do homem e da mulher são ainda
mais admiráveis: “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança (…). Deus
criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele
os criou” (Gn 1,26-27). Confiou ao homem e à mulher o cuidado e o cultivo da
obra criada. E, assim, nos diz o texto que “Deus viu tudo quanto havia feito, e
era muito bom” (Gn 1,31).
Há, no desabrochar e no cintilar de tudo, uma relação de
amor e de cuidado. Na origem da bondade de Deus, está o sentido da obra criada
e o sentido de ser pessoa. Jesus mesmo, ao ser confrontado com a separação
entre o homem e a mulher, dirá: “Moisés permitiu despedir a mulher, por causa
da dureza do vosso coração. Mas não foi assim desde o princípio” (Mt 19,8). No
princípio, no eclodir, no dar-se, no manifestar-se, não existe divisão,
desamor, violência, mas acolhimento, reverência, pertença fraterna. A violência
vem depois. Nasce do esquecimento das origens, da vocação do ser humano: o
amor. O esquecimento do mandamento do amor e da ética gestam e despertam
violência. Os descaminhos, no entanto, podem ser superados com a volta às
origens, com a reconciliação e a misericórdia. Somos chamados à superação da
violência, pois somos filhos e filhas de Deus.
A Campanha da Fraternidade acontece no Ano Nacional do
Laicato, que tem como tema: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em
saída’, a serviço do Reino”, e como lema: “Sal da terra e luz do mundo (Mt
5,13-14). Uma Igreja que anuncia o Reino de Deus, o Reino da paz e da
fraternidade. Os leigos e leigas, iluminados e fortificados pela Palavra e pela
Eucaristia, serão luz para superar a violência e sal para temperar a
fraternidade.
Maria, Mãe do Príncipe da Paz, nos acompanhe no caminho
de conversão quaresmal! Jesus Cristo crucificado-ressuscitado, que transformou
todas as coisas, nos ajude no caminho da superação da violência, pois somos
todos irmãos.
A todos os irmãos e irmãs, todas as famílias e
Comunidades, uma abençoada Páscoa!
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: Portal Kairós.
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