Este título da Virgem Maria deriva da Ordem das Mercês,
cujo apostolado da redenção de cativos era na Idade Media chamado de obra de
mercê ou misericórdia. A Ordem atribuiu sempre à Virgem Santíssima uma especial
participação em sua fundação, motivo pelo qual a honrou ao longo dos séculos
com especial devoção, seguindo o exemplo de São Pedro Nolasco, que já em 1249
dedicou-lhe uma Igreja. bem cedo, os religiosos deram à festividade geral da
Virgem um sentido próprio. em 1600, foi-lhes permitido celebrar sob o título
das Mercês a festa da natividade de Maria, e em 1616 é concedida a celebração
litúrgica com textos próprios. em 1696, seu culto foi estendido a toda a
Igreja.
Origem da devoção das Mercês
O vocábulo mercê, no séc. XIII, era sinônimo da obra de
misericórdia corporal por antonomásia, qual era a de redimir cativos. Assim,
por exemplo, as casas da Ordem de São Tiago, que costumavam receber cativos,
são chamadas casas de mercê, na documentação medieval.
A 29 de abril de 1249, os frades obtiveram licença do
bispo de Barcelona, Dom Pedro de Centelles, para edificar uma igreja dedicada a
Santa Maria, em sua Casa-Hospital de Santa Eulália, construída próxima ao mar.
O povo barcelonês, amante da brevidade, começou a chamar a comenda dos frades
mercedários, singelamente, casa da Ordem das Mercês, e mais simplesmente ainda,
As Mercês. Em consequência, a imagem de Santa Maria que todos veneravam na nova
igreja da Casa das Mercês de Barcelona começou a ser conhecida como Santa Maria
das Mercês. Nessa igreja, iniciou-se o culto a Maria com o título de Mercês, a
partir de onde se estenderá a todas as igrejas em que se estabeleçam os
mercedários. Doravente, todas as igrejas que construam serão dedicadas à sua
Fundadora, a Virgem das Mercês, ou a ela terão dedicado um de seus altares.
Como atos em honra de Santa Maria das Mercês, a Ordem
desde sue início praticou:
A entrega do hábito de Santa Maria aos novos frades e aos
confrades. Dizia-se ao postulante: – Queres receber o hábito de Santa Maria? –
e o peticionário respondia: - sim, quero. O Ofício diário de Santa Maria,
obrigatório para todos os clérigos e o correspondente para os leigos.
A Missa e a Salve – rainha dos dias de sábado. É muito
provável que o belo costume da Missa de Santa Maria e doa Canto da Salve –
rainha em sua honra nos dias de sábado tenha sido introduzida na Ordem por
disposição do próprio São Pedro Nolasco. Constante que, em 1307, Galcerán de
Miralles legava à igreja da comenda de Nossa Senhora de Bell-lloch a quantidade
de três libras de cera, para que mantivessem um círio acesso todos os sábados
durante a celebração da missa da virgem e o canto da Salve-rainha.
Atos de imemorial culto mariano, e que bem poderiam
provir dos tempos de Pedro Nolasco, eram a despedida dos redentores, no partir
para a terra de mouros, que se fazia diante do altar da igreja; e na volta, a
procissão de redentores e redimidos, com seus estandartes, até a igreja das
Mercês, para agradecer à Celestial Protetora, pelo favor de seu amparo nas
peripécias da viagem redentora.
O nome de Maria no título da Ordem
Um dos títulos com que, no início, era chamado o
Instituto fundado por Pedro Nolasco, como já se disse, foi Ordem das Mercês ou
da Misericórdia dos cativos. A esta denominação muito rapidamente se somou o
nome de Maria.
A primeira vez que se encontra documentalmente o nome de
Maria no título da ordem é na bula do papa Alexandre IV, Prout Scriptura
testatur, dada em Perúgia a 3 de maio de 1258. O papa, escrevendo aos
arcebispos, bispos, abades, etc., para informá-los das graças e das faculdades
concedidas aos mercedários, por motivo da obra benéfica que praticam em favor
dos cativos, diz: “Dado que o Mestre e os frades da B. Maria das mercês, outras
vezes chamados de Santa Eulália... trabalham com todas as suas forças...”. O
Papa, portanto, uniu o nome de Maria ao vocábulo mercê, obtendo a denominação
Bem-aventurada Maria das Mercês, como parte do título da Ordem. Do contexto da
bula infere-se que que o nome de Maria das Mercês já era conhecido. Não se deve
supor que o Papa tenha usado o nome de Maria sem razão, nem o impôs por
autoridade; ademais, o Papa não enviou a bula diretamente aos frades da Ordem.
Há de se buscar uma explicação lógica na interdependência entre a Virgem
Santíssima e a Ordem dedicada à redenção dos cativos. Os frades das Mercês
estavam persuadidos de que a Virgem Maria, Mãe de Deus, interveio de modo
direto na fundação da Ordem. Em consequência, os legisladores das constituições
de 1272 oficializaram o nome de Maria no título, chamando-a: Ordem da Virgem
Maria das Mercês da redenção dos cativos de Santa Eulália.
Por causa dessa convicção, nos documentos do séc. XIII
não aparece nunca o nome do primeiro Mestre, Pedro Nolasco, no título da Ordem;
para que toda glória e toda honra da fundação fossem atribuídos à celestial
Senhora, mensageira da Trindade, àquela que a Ordem considera como fundadora e Mãe.
Desde o historiador mercedário Nadal Gaver (1445), essa presença de Maria
concretizou-se no relato da aparição da Virgem Maria a São Pedro Nolasco
ordenando-lhe, porque era vontade de Deus, fundar uma Ordem em sua honra,
destinada à redenção dos cativos.
Imagens de Maria, igrejas e santuários mercedários
Em todas as casas da Ordem, existiram desde o começo
imagens de Maria das Mercês. A primeira foi de Barcelona, da Virgem sentada
como o Menino, esculpida em mármore branco, mandada fazer por Pedro Nolasco e
hoje conservada no museu da catedral barcelonesa. No séc. XIV, foi substituída,
por ser demasiado pequena para o templo que se tornava grande, por outra imagem
feita pelo escultor da catedral de Barcelona, Bernardo Roca, segundo contrato
estipulado a 13 de setembro de 1361 entre o referido artista e o prior de
Barcelona, Frei Bonananto de Prixana. É a que, como Padroeira de Barcelona,
hoje preside o altar-mor da Basílica das Mercês da dita cidade.
Além da veneração e do culto a Maria das Mêrces, durante
o primeiro século da Ordem Pedro Nolasco e seus frades sentiram especial
predileção por igrejas em que se tributava culto a Maria, e, ou porque lhes
foram confiadas as já existentes, ou porque a Ordem construiu-as e dedicou à
invocações lugares de culto a Maria. O primeiro e mais notável santuário
mariano da Ordem das Mercês, no séc. XIII, foi o de Santa Maria de EL Puig, em
Valência.
Existem também outras igrejas dedicadas à Virgem: Santa
Maria dels Prats (Tarragona), Santa Maria de Sarrion (Teruel), Santa Maria de
Arguines (Castellón), Santa Maria de El Olivar (Estercuel), Santa Maria de
Acosta (Huesca), Santa Maria de Montflorite (Huesca), Santa Maria de Perpignan
(França) e Santa Maria de El Puig de Osterno ou Montetoro, Santuário Mariano da
ilha de Menorca.No Brasil, existe 34 Paróquias dedicadas a Nossa Senhora das
Mercês.
Marianismo mercedário
Está fora de toda dúvida que a Ordem das Mercês nasceu,
cresceu e atuou em clima saturado de amor e culto à sempre Virgem Maria.
Sem a intervenção, presença e apoio solícito da Celestial
Rainha e Mãe, não podia explicar-se adequadamente: nem a origem da Ordem; nem o
atrativo que sobre Pedro Nolasco e sues seguidores imediatos exerceram as
igrejas dedicadas a Santa Maria; nem a ocorrência de consagrar e dedicar a
Santa Maria a igreja da casa de Barcelona, cabeça e fundamento da Ordem, quando
esta era conhecida por Casa, Hospital e Ordem de Santa Eulália; nem o empenho
tenaz de introduzir o santo nome de Maria título da Ordem, depois de ter-se
provado e usado vários; nem por que hábito branco da Ordem chamou-se hábito de
Santa Maria; nem como uma Ordem de poucos frades e caráter militar; fundada por
um simples leigo para a redenção de cativos foi capaz de introduzir na igreja
uma nova invocação mariana, a de Santa Maria das Mercês.
Prova deste marianismo da Ordem, desde o início, é que
todas as doações para a redenção eram feitas em nome de Maria. São numerosos os
documentos existentes de doações feitas por benfeitores à Ordem para as
redenções, em que se especifica a motivação mariana. Ferrer de Portell e sua
mulher Escalona “para glória de Deus e da Virgem Maria e o bem de suas almas”,
a 25 de outubro de 1234, ofereceram seus bens a Pedro Nolasco para redenção dos
cativos. Igualmente Ramón de Morella, a 3 de março de 1245, no doar o hospital
de Arguines a Pedro Nolasco, fê-lo << em honra de Nosso Senhor Jesus
Cristo e da Bem-aventurada Virgem Maria, sua mãe>>. O Rei Jaime II, a 15
de maio de 1300, outorgava um benefício à Ordem << por reverência à
Virgem Maria>>.
Se os fiéis davam essas esmolas para a honra de Maria,
significa que os religiosos solicitavam-nas em seu nome, coisa que não teriam
podido fazer se não estivessem convencidos de uma particular intervenção de
Maria na fundação da Ordem.
Fonte: Site dos Frades Mercedários.
Fonte: Site dos Frades Mercedários.
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