Com o Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa. É a 'semana maior' do ano litúrgico e da piedade popular cristã. A Igreja convida a vivê-la intensamente, acompanhando os passos de Cristo na sua humilhação, sofrimento e condenação à morte, para termos parte no triunfo de sua ressurreição gloriosa.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém,
no Domingo de Ramos, nos convidou a aclamar Jesus, o Ungido e Enviado de
Deus, nosso Senhor e Salvador, com palmas nas mãos: palmas do martírio e
da vitória do Vivente sobre a morte, do Rei da Vida sobre o reino da
morte…
Na Quinta Feira Santa, a Missa do Crisma e da Renovação
das Promessas Sacerdotais nos recorda somos o povo sacerdotal, que Jesus
reuniu em torno de si e leva o seu nome; somos chamados a viver
santamente e a proclamar a glória de Deus no mundo. Ao mesmo tempo,
Jesus instituiu o sacerdócio ministerial, para que os sacerdotes,
ungidos pelo Espírito de Cristo e com sua autoridade, continuem a ser
para o povo sacerdotal aquilo que ele foi e continua a ser através
deles: sacerdote, profeta e pastor.
Na Missa vespertina, 'na Ceia
do Senhor', somos convidados a sentar à mesa pascal com Cristo.
Lembramos a instituição da Eucaristia, sinal e sacramento da "vida
doada" – de Jesus Cristo – em sacrifício amoroso pela salvação da
humanidade. O Sacramento da Eucaristia nos enche de gratidão reverente e
de alegria, porque é Jesus que se doa a nós, como alimento espiritual,
companhia e presença real permanente, amor que amou até o fim. No
"lava-pés", Ele nos deixou o exemplo, para que o imitemos no serviço
humilde e dedicado aos irmãos: "Eu, que sou vosso Mestre e Senhor,
dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa" (cf Jo, 13,14-15).
Continuamos
a seguir os passos de Jesus Cristo na Sexta Feira da Paixão. No drama
de sua prisão, julgamento, tortura, condenação à morte e crucificação,
nossa fé e fidelidade a Cristo são postas à prova. Não o atraiçoemos nem
façamos dele objeto de lucro avarento, como Judas Iscariotes; não
fiquemos distantes e indiferentes diante dele, nem neguemos conhecê-lo,
como Pedro; e nem fujamos dele, como quase todos os demais apóstolos,
quando se faz difícil professar-se cristão, diante das injúrias, riscos
ou cruzes, por causa de nossa fé e nossa pertença a Cristo e à Igreja
dele. Fiquemos fiéis a Ele, firmes ao lado dele, como Maria, o apóstolo
S.João, as santas mulheres… Sejamos testemunhas da verdade, contra toda
forma de falsidade, corrupção e injustiça cometidas contra Ele, na
pessoa dos irmãos que sofrem. Como o Cirineu, ajudemos a carregar a sua
pesada cruz, que ainda pesa nos ombros de tantos irmãos sofredores;
enxuguemos sua face ensanguentada nos rostos dos irmãos rejeitados pela
sociedade, nas vidas inocentes violentadas, desprezadas, mandadas à
morte…
Na Sexta Feira Santa, arrependidos, batamos no peito e
peçamos o perdão por nossos pecados, bem sabendo que Ele morreu por
todos e cada um de nós: não fomos nós que o exigimos: foi Ele que se
entregou por amor, infinito amor, para estender-nos a mão misericordiosa
de Deus. "Tanto Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho único,
para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida
eterna". (Jo 3,16). E cresça em nós o propósito de abandonar todo
caminho que não seja aquele que Jesus abriu e indicou à humanidade,
caminho de verdade, justiça, santidade e vida. Sigamos seus passos, para
a superação de toda condenação injusta, toda violência e desrespeito
pela pessoa do próximo. Ele nos convida a seguir seus passos, que levam à
vida.
O Sábado Santo nos conduz à sepultura de Jesus, para
prestarmos nossa homenagem a ele, cheios de gratidão e amor, como José
de Arimatéia, Nicodemos, Madalena e as outras Marias… Sábado de vigília e
de certeza que a vida já venceu a morte. Sim, porque Deus estava do
lado dele; ele nada fez de mal e estava certo o centurião romano, ao
exclamar, após a morte de Jesus: "verdadeiramente, este homem era Filho
de Deus!" (Mc 15,39). Sim, Deus não abandonou o seu Justo no pó da
morte, mas o fez levantar-se e aparecer vivo diante dos discípulos e de
muita gente!
A Vigília Pascal é a solene, reconhecida, tocante,
alegre proclamação das maravilhas de Deus na criação e na obra da
salvação, que tem seu momento culminante na vida, paixão, morte e
ressurreição de Jesus Cristo. E nós, com firme fé, estamos com nossas
lâmpadas acesas, à espera que o Senhor da Vida nos comunique a plenitude
da sua vida, já manifestada no Mistério Pascal. Corramos ao seu
encontro, como Madalena, Pedro e João, professemos nossa fé no Senhor
ressuscitado, como os apóstolos, mesmo se vacilantes: Ele nos quer dar
sua paz e confirmar nossos corações inconstantes, acompanhando-nos, como
aos discípulos de Emaús, no caminho da vida.
Fonte: Texto escrito pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e publicado no site Catequese Católica.
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