quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

A teologia do burinho, de São Josemaria Escrivá

No começo dos anos trinta, o Fundador do Opus Dei dirigiu-se a Nosso Senhor na igreja do Patronato de Santa Isabel com estas palavras: - Aqui tens o teu burrinho sarnento. E ouviu como resposta estas delicadas palavras: “um burrinho foi o meu trono em Jerusalém”.

O burrinho, dócil, humilde e trabalhador, é desde sempre tido em simpatia por São Josemaria que se considerava a si mesmo como um burrinho, “ut iumentum”.

Apresentamos outras palavras suas sobre a “teologia do burrinho”.

Pensai nas características dum jumento, agora que vão ficando tão poucos. Não falo dum burro velho e teimoso, rancoroso, que se vinga com um coice traiçoeiro, mas dum burriquito jovem, com as orelhas tesas como antenas, austero na comida, duro no trabalho, com o trote decidido e alegre. Há centenas de animais mais formosos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo preferiu este para se apresentar como rei diante do povo que O aclamava, porque Jesus não sabe que fazer da astúcia calculadora, da crueldade dos corações frios, da formosura vistosa mas vã. Nosso Senhor ama a alegria dum coração moço, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. E é assim que reina na alma. (Cristo que passa, 181).

Bendita perseverança a do burrico de nora! - Sempre ao mesmo passo. Sempre as mesmas voltas. - Um dia e outro; todos iguais. Sem isso, não haveria maturidade nos frutos, nem louçania na horta, nem o jardim teria aromas. Leva este pensamento à tua vida interior. (Caminho, 998).

Oxalá adquiras - queres alcançá-las - as virtudes do burrinho: humilde, duro para o trabalho e perseverante, teimoso!, fiel, seguríssimo no seu passo, forte e - se tem bom amo - agradecido e obediente. (Forja, 380).

Continua a considerar as qualidades do burrinho, e repara que ele, para fazer alguma coisa de proveito, tem de deixar-se dominar pela vontade de quem o guia...: sozinho não faria senão... burrices. Seguramente não lhe ocorre outra coisa melhor que revolver-se no chão, correr para o estábulo... e zurrar.
- Ah Jesus! - diz-lho tu também - : "ut iumentum factus sum apud te!", fizeste-me o teu jumento; não me deixes, "et ego semper tecum!", e estarei sempre Contigo. Conduz-me fortemente preso com a tua graça: "tenuisti manum dexteram meam...", apanhaste-me pelo cabresto; "et in voluntate tua deduxisti me...", e faz-me cumprir a tua Vontade. E assim hei-de amar-te pelos séculos sem fim!, "et cum gloria suscepisti me!". (Forja, 381).

- Menino, pobre burrinho: se, com Amor, Nosso Senhor limpou as tuas negras costas, habituadas ao esterco, e te aparelha com arreios de cetim e sobre eles põe jóias deslumbrantes, pobre burrico!, não te esqueças de que "podes", por culpa tua, deitar a magnífica carga ao chão..., mas tu sozinho "não podes" voltar a carregá-la. (Forja, 330).

Olha como é humilde o nosso Jesus: um burrico foi o seu trono em Jerusalém!... (Caminho, 606).

Compreendi-te bem, quando concluías: - Decididamente quase não chego a burrico..., ao burrinho que foi o trono de Jesus para entrar em Jerusalém: fico a formar parte do montinho vil de trapos sujos, que até o trapeiro mais pobre despreza.
Mas comentei-te: - Contudo Nosso Senhor escolheu-te e quer que sejas seu instrumento. Por isso o facto - real - de te veres tão miserável, tem de converter-se numa razão mais para agradeceres a Deus o seu chamamento. (Forja, 607).

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