A memória da Apresentação de Nossa Senhora no Templo
Após o Concílio Vaticano II, a Igreja reformulou seu
calendário litúrgico, surgindo então uma coleção de 'Missas da Virgem Santa
Maria', como Apêndice ao Missal Romano. Dentre as festividades marianas do
calendário está a memória obrigatória da Apresentação de Nossa Senhora no
Templo, comemorada no dia 21 de novembro. No que se refere ao culto mariano, o
Concílio dedicou um capítulo especial exortando todos os fiéis ao culto à
Virgem Maria, de maneira essencialmente litúrgico (Lumen Gentium, 67), ou seja,
associado à celebração das festas litúrgicas.
O Concílio destacou o lugar da Mãe de Deus na Liturgia da
Igreja na celebração do ciclo anual dos mistérios de Cristo: “a santa Igreja
venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do
seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o
mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que
ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser.” (SC 103)¹
História
Esta celebração antiga iniciou-se no século VI, em
Jerusalém, quando da construção de uma igreja em homenagem a este mistério. A
Igreja do Oriente, acolheu e conservou zelosamente as tradicionais festas
marianas, reservando à apresentação de Maria uma memória particular, como um
dos mistérios da vida daquela que Deus escolheu para Mãe de seu Filho
Unigênito. A partir do século XVI, tornou-se uma festa da Igreja Católica do
mundo inteiro.
Como o nascimento da Virgem Maria, este episódio não é
narrado nas Sagradas Escrituras, mas em evangelhos apócrifos, em particular no
Proto-evangelho de São Tiago. De acordo com os relatos, os pais da Virgem
Maria, Joaquim e Ana, que não podiam ter filhos, receberam uma mensagem de que
teriam um filho. Como agradecimento pela graça da filha que lhes veio, eles a
levaram ainda pequena para o Templo em Jerusalém para consagrá-la a Deus.
Versões posteriores da história (como no Evangelho de Pseudo-Mateus e no
Evangelho da Natividade de Maria²) nos contam que Maria foi levada para o
Templo com cerca de três anos de idade para cumprir uma promessa. A tradição
conta que ela permaneceu ali para se preparar para o seu futuro papel como Mãe
de Deus (Theotokos em grego).
Celebração litúrgica
Na Liturgia das Horas, lê-se: “Neste dia da solene
consagração da igreja de Santa Maria Nova, construída junto ao templo de
Jerusalém, celebramos com os cristãos do Oriente aquela consagração que Maria
fez a Deus de si mesma desde a infância, movida pelo Espírito Santo, de cuja
graça ficará plena na sua imaculada conceição”.³
Portanto, a apresentação de Maria tem um importante
propósito teológico: continua o impacto das festas da Imaculada Conceição e do
nascimento de Maria. Ele enfatiza que a santidade conferida a Maria foi desde o
início de sua vida na Terra e continuou pela sua infância. Disse São Germano de
Constantinopla na homilia sobre a Apresentação: Esta menininha prepara o
aposento para acolher a Deus, “mas não é o templo que a santifica e purifica, e
sim a sua presença que purifica inteiramente o templo”.
Para a Igreja Católica, no dia da Apresentação de Maria,
“celebramos a dedicação de si própria que Maria fez a Deus desde a sua tenra
infância sob a inspiração do Espírito Santo, que preencheu-a com sua graça…”. O
papa Paulo VI, em sua encíclica de 1974, Marialis Cultus, escreveu que “apesar
de seu conteúdo apócrifo, [a história da Apresentação] apresenta elevados e
exemplares valores e avança veneráveis tradições de origem nas igrejas
orientais”.
As três festas do Nascimento, Santo Nome de Maria e a
Apresentação no Templo correspondem com as três primeiras festas do ciclo de
Jesus, o Nascimento de Jesus (Natal), o Santo Nome de Jesus e a Apresentação de
Jesus no Templo.
O dia 21 de novembro é também um dia Pro Orantibus, um
dia de oração para as freiras enclausuradas “totalmente dedicadas a Deus em
oração, silêncio e retiro”.
Foi no dia 21 de novembro de 1964 que o Papa Paulo VI, na
clausura da 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o mundo ao Coração de
Maria e declarou Nossa Senhora Mãe da Igreja.
No Brasil
A escritora Nilza Botelho Megale, no seu livro intitulado
'Cento e Sete Invocações da Virgem Maria no Brasil', publicado pela Editora
Vozes, Petrópolis, 1980, afirma que no Brasil, a primeira Paróquia dedicada a
esta invocação, foi a de Natal, no Rio Grande do Norte, fundada em 1599.
Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo: “Na capela-mor daquela matriz se
colocou pouco depois um grande e famoso quadro de pintura, em que se vê o mesmo
mistério da Senhora historiado…A sua festividade se lhe celebra em 21 de
novembro, que é o dia em que a Senhora foi oferecida ao Senhor da Glória”.
A cidade de Porto Calvo, em Alagoas, campo de diversas
batalhas entre brasileiros e tropas invasoras durante a guerra holandesa, tem
também como padroeira a Nossa Senhora da Apresentação.
No Rio de Janeiro, Bairro de Irajá, em 1613 foi
construída uma capelinha. Só em 1644 se instituiu a Paróquia de Nossa Senhora
da Apresentação de Irajá. A Matriz foi confirmada por Alvará de D. João IV em
10 de fevereiro de 1647. A capela é uma das jóias da arquitetura religiosa do
Rio de Janeiro e a segunda mais antiga da municipalidade.
Na arte
As representações ocidentais geralmente se concentram na
figura sozinha da jovem Maria subindo os degraus do Templo, tendo deixado para
trás os pais e subindo na direção do sumo sacerdote e de outras pessoas no
Templo. O tema também é uma das cenas habituais nos ciclos maiores sobre a Vida
da Virgem, embora ele não seja geralmente uma das cenas mostradas nos livros de
horas.
Fonte: Portal A12.
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