Por Elizabeth Scalia / Aleteia Brasil | Set 08, 2016
Até uma sutileza na
genealogia sagrada aponta que, agora, tudo é diferente...
O “O teu
nascimento, ó Virgem Mãe de Deus, proclama alegria ao mundo inteiro, porque de
ti nasceu o Sol glorioso da Justiça, o Cristo, nosso Deus; Ele nos libertou da
antiga maldição e nos encheu de santidade; Ele destruiu a morte e nos deu a
vida eterna” (antífona do Cântico de Zacarias, na oração da manhã para 8 de
setembro, dia da Natividade de Maria).
Na festa de hoje, que honra o nascimento de Maria, a Mãe
de Deus, o Evangelho apresenta a genealogia e a Anunciação conforme descritas
por São Mateus: toda a lista de patriarcas e pais, com a ocasional menção da
mãe:
“Judá gerou Farés e
Zara, cuja mãe era Tamar … Davi gerou Salomão, cuja mãe tinha sido a mulher de
Urias…”
E assim por diante. Até que…
“Aquim gerou
Eliúde. Eliúde gerou Eleazar. Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó. Jacó gerou
José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo”.
A genealogia vai seguindo uma linha e, de repente,
acontece uma reviravolta: de repente, mais um homem é nomeado, mas ele não é
apontado como o pai de alguém, e sim como o marido daquela que é mãe! A Mãe do
Criador. A Mãe do Cristo.
Esta sutileza da narrativa sinaliza que algo agora é
muito diferente. A partir de agora, entendemos que nada mais será como era.
Consideremos ainda:
“No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (João 1,1).
“No início, quando
Deus criou os céus e a terra, a terra era um deserto sem forma e as trevas
cobriam o abismo, enquanto um vento forte varria as águas. Então Deus disse:
‘Haja luz’, e houve luz” (Gênesis 1,1-3).
Ambas as passagens descrevem algo que surge do nada;
ambas falam de vazios e espaços. Em março, quando falamos da Anunciação, esses
textos muito bem poderiam descrever a condição do seio virginal de Maria, mas
talvez, hoje, também se possam contemplar essas palavras como referência à alma
de Maria no momento da sua concepção. O Deus que É, que Foi e que sempre Será
sabia quem seria a Sua Arca da Nova Aliança, pois Ele próprio iria
providenciá-la: aquela a quem Gabriel chamou “a cheia de graça”.
Voltando às linhas do Gênesis e de João, quase podemos
considerar Maria no útero como uma espécie de espelho do “nada” em repouso que
existia antes da criação: uma criatura criada, amada a ponto de chegar a ser e
marcada pela graça, está esperando para nascer. Ela vive e cresce no silêncio;
como modelo de quiescência.
Da folha em branco de Maria vem o resto da história.
Salvação. Resgate. O Caminho de volta.
Por que Maria é tão importante para os católicos? Por que
honrá-la tão grandemente e chamá-la Bem-Aventurada e Santa? Ela não era “apenas
uma mulher”?
Sim, mas… não. Ela é “a cheia de graça”. E teria que ser.
Eu sou apenas uma mulher; bilhões de pessoas são “apenas mulheres”; a maioria
delas são pessoas boas e decentes, mas será que qualquer uma delas poderia ter
sido a “Arca” excepcional destinada a carregar em si, nutrir e dar à luz o seu
Criador e Salvador?
A bondade de Maria não era por mérito próprio; a ela foi
dada a graça. A ela foi dada ainda a graça de dizer “sim”, mesmo quando um
“não” teria sido perfeitamente compreensível, dada sua idade e sua época. Ela
reconhece tudo isso em seu esplêndido Magnificat, compartilhado pelo Evangelho
de Lucas.
Nós recordamos e celebramos o fato de seu nascimento
porque – merecido ou não – ela foi a escolhida de Deus para acender uma chama
que ainda arde na humanidade.
Celebramos hoje o nascimento de Maria, a Theotokos,
aquela que nos traz o Deus encarnado; a mãe sublime que Jesus, ao pé da sua
cruz, deu a cada um de nós.
“O Pai se regozija
em olhar para o coração da Santíssima Virgem Maria como a obra-prima de suas
mãos. O Filho se regozija nele como o coração de Sua Mãe, a fonte de Seu
próprio Sangue que nos resgatou” (São João Maria Vianney).
Fonte: Site Aleteia.
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